Fortuna Critica

Três dúvidas na Feira do Livro de Porto Alegre



Luiz Paulo Faccioli
www.bandrs.com.br/emporiocultural (30/10/2010)

Sigo a Companhia das Letras no Twitter e foi dessa forma que recebi a boa notícia do lançamento de Três dúvidas (sessão de autógrafos hoje, 19h30min), o mais recente livro do gaúcho Leonardo Brasiliense. Há muito venho acompanhando o trabalho de Brasiliense e sempre achei que ele merecia figurar no catálogo de uma grande editora, que ajudasse a levá-lo para além das fronteiras regionais. Contudo, o que mais me impressionou foi o teor do anúncio. A nota classificava o autor como “uma nova e impressionante voz no cenário das letras nacionais”. Não é comum uma editora do porte da Companhia das Letras expressar tanto entusiasmo em relação a um lançamento nacional, mesmo que autor já tenha conquistado vários prêmios importantes, dentre eles o Jabuti. Descobri mais tarde que a afirmação está na orelha do livro, de autoria do escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, fato que não diminui em nada seu impacto para efeitos de divulgação.

Três dúvidas se compõe de três histórias, classificadas de novelas por Brasiliense mas que cabem muito bem no gênero conto. O próprio autor resume na última página:

"É simples: Um dia em comum, A grande ventura de Paulo Sérgio contada por ele mesmo três dias antes de morrer e O visitante referem-se a um dos fundamentos da humanidade, a dúvida. A primeira trata de dúvidas existenciais; a segunda, de uma dúvida essencial; e a terceira, da essência da dúvida. Toda a literatura que mereça esse nome trabalha com uma ou outra. O resto é sociologia."

Um dia em comum narra um dia na vida de José Francisco, corretor de seguros aposentado, e de sua mulher Carmem, que ainda trabalha fora. A grande ventura de Paulo Sérgio contada por ele mesmo três dias antes de morrer traz no próprio título uma descrição sucinta do entrecho. Em O visitante, o protagonista é Marcos, um jornalista às voltas com a grande notícia que mudará sua vida. Na feliz comparação de Assis Brasil, os personagens “todos têm suas vidas costuradas por linhas tão frágeis que o sopro de uma hesitação é capaz de desfazer”.

Brasiliense vai tecendo suas histórias calmamente, sem atropelo, sem estripulias formais. Quando o leitor se dá conta, está completamente envolvido por uma trama que não sabe bem qual é, pois não consegue distinguir a verdade da mera fantasia, numa bem urdida emulação da consciência do personagem a lidar com a sua dúvida. Simples, como o autor anuncia, e muito bem realizado.

 

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